segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Desabrigar o Isidoro é ir contra o ECA





Inicio este pequeno artigo com a palavra desabrigar. A mesma sugere segundo o dicionário o entendimento de deixar sem abrigo. No caso oito mil famílias e milhares de crianças e adolescentes que hoje estão morando em suas casas no entorno do Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Desabrigar simboliza desproteger aquelas e aqueles que já tem suas moradias, construídas com as próprias mãos, fruto da resistência de quem um dia se sentiu injustiçado pela falta de políticas públicas e pela escravidão do aluguel.

Um dos grandes avanços sociais presentes na Constituição Federal é a garantia de direitos voltadas a Crianças e Adolescentes. Um conjunto normativo, pós 88, permitiu um sistema integrado de políticas sociais e um vasto arcabouço jurídico que fomentou a cidadania de muitos brasileiros da primeira infância à juventude.

De acordo com a constituição, o artigo 227º diz que Crianças e Adolescentes tem prioridade absoluta e é antes de mais nada um dever do Estado assegurar este conjunto a sociedade civil toda proteção integral a família.

Em Belo Horizonte, a qualquer momento este direito pode ser descumprido por parte da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e do Governo Estadual. Existe um risco das oito mil famílias de três ocupações (Rosa Leão, Esperança e Vitória) nas cidades de BH e Santa Luzia, no entorno da mata do Isidoro, serem despejadas de forma opressora pela Polícia Militar.

A grande questão legal é aonde ficarão as famílias a serem desabrigadas. Em que espaços de acolhimento, uma vez que a cidade não contem vagas a todas as famílias em especial as crianças ali presentes.

Segundo a lei federal 8069/90 o abrigamento dependerá da organização e infraestrutura de responsabilidade do poder executivo (neste caso municipal) e a ordenação da Vara de Infância e Juventude e acompanhamento do Conselho Tutelar. É importante considerar que Belo Horizonte não tem mil vagas de abrigamento para todas as crianças e adolescentes. Portanto aonde ficarão estas famílias? E as crianças e adolescentes? Como se dará o direito ao acesso escolar e outras garantias de cidadania?


Aguardamos até o momento o pronunciamento do poder judiciário para saber se será descumprido o Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que o despejo das famílias que vivem em suas casas próprias na região do Isidoro tratá a cena pública uma violação de direitos múltipla, não apenas aos mais jovens, mas irá cessar do direito a moradia e a dignidade humana.


--
Leonardo Koury – Escritor, Educador, Assistente Social e Militante dos Movimentos Sociais

Nenhum comentário:

“Acordei com um sonho e com o compromisso de torná-lo realidade"
Leonardo Koury Martins

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
Saramago

"Teoria sem prática é blablabla, prática sem teoria é ativismo"
Paulo Freire

"Enquanto os homens não conseguirem lavar sozinhos suas privadas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo de iguais"
M.Gandhi

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres"
Rosa Luxemburgo