sábado, 29 de março de 2014

Machismo não é senso comum e sim Opressão




A alguns anos, venho escrevendo e me dedicando propriamente em dialogar sobre as relações sociais e o poder. Debate que infere a construção de pensamentos e reflexões sobre a teoria e a prática numa sociedade de classe.

Estes últimos dias, um debate antigo e de características masculinizadas, moralista e conservadora traz a cena pública a seguinte questão. Se mulheres e seu comportamento formam a oportunidade e justifica um ato de violência masculina. Portanto as condições de diálogo sobre os 65% dos entrevistados e entrevistadas que respondiam que justificava o estupro vão mais do que só uma justificativa.

Numa sociedade em que seu sistema de produção econômico, por si, promove a desigualdade como fonte de sua manutenção, necessita de engendrar de forma cultural e em sua organização social conceitos muito além de senso comum.

Para manter a desigualdade entre gênero e sexualidade, promove não apenas singelas denominações heteronormativas, mas produzem cotidianamente a afirmação da necessidade de opressão para o alinhamento societário. O uso da força deve ser justificado quando o mais fraco ressalta suas características individuais. Afinal, para a opressão sexista, mulheres e  homens de respeito deveriam usar roupas adequadas no local de trabalho, no local de lazer, no local e local..

A grande questão também permeia o racismo quando negras e negros não estão devidamente vestidos, pois uma bata africana não é uma roupa adequada para se trabalhar em um banco ou em uma grande empresa.

A descaracterização das diferenças, reafirma a uniformização do padrão social que traz aos negros e negras, as mulheres a inferioridade e subalternidade. Também afirma a necessidade de criminalização a livre orientação sexual, a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais.

Não é apenas um discurso da moral e das normas sociais que estão em jogo, mas a construção de um padrão, de uma centralidade cultural que por trás reafirma a necessidade de que o modelo de produção capitalista não seja questionado.

Oprimir não é um ato de defesa de costumes, mas de ataque a toda forma de levante da opressão. A liberdade ameaça não apenas a hegemonia cultural, mas ameaça aqueles que fazem da individualidade, da disputa e da descaracterização das diferenças o motor para não se aprofundar na mais-valia e nas reais condições de poder atualmente estabelecidas.

Portanto, nestes discursos de defesa da família é perceptível a fragilidade de sua construção humanista, pois os mesmos que defendem a vida e negam o direito ao aborto, defendem e justificam que mulheres por suas atitudes sejam estupradas, como também defendem a juventude e aos pobres que não tem acessos reais a justiça a pena de morte.

Defendem a vida e se preciso a morte para todo ou qualquer discurso que desfaça o padrão de sociedade que acreditam. Defendem as possibilidades de consumo e seu padrão burguês de vida, mas marginaliza as lutas sociais e reafirmam o marginal padrão que norteia a desigualdade e as relações econômicas.

Termino parafraseando e construindo uma relação em complementar Malcolm X, quando ele diz que não devemos confundir a violência do opressor com a reação e a resistência do oprimido; e que façamos da opressão nossa bandeira e conquista não apenas por novos direitos, mas que não limitemos em legalidades, mas sim de mudar o mundo, pois apenas uma nova ordem pode construir uma nova sociedade.



Leonardo Koury Martins - Escritor, Assistente Social e Militante dos Movimentos Sociais

Nenhum comentário:

“Acordei com um sonho e com o compromisso de torná-lo realidade"
Leonardo Koury Martins

"Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"
Saramago

"Teoria sem prática é blablabla, prática sem teoria é ativismo"
Paulo Freire

"Enquanto os homens não conseguirem lavar sozinhos suas privadas, não poderemos dizer que vivemos em um mundo de iguais"
M.Gandhi

"Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres"
Rosa Luxemburgo